quarta-feira, 14 de maio de 2014

Uma criança com dificuldades de aprendizagem pode aprender uma língua estrangeira?


Pode. Há, no entanto, que ter em conta alguns aspetos.

Uma criança aprende línguas estrangeiras com muito mais facilidade do que um adulto. Isto deve-se ao facto de o seu cérebro ainda se encontrar em desenvolvimento e de o seu aparelho fonador ainda poder adaptar-se aos sons de uma língua que não a língua materna.

As dificuldades de aprendizagem apresentadas por uma criança na sua língua materna serão as mesmas que apresentará na língua estrangeira. Para que a aprendizagem da segunda língua tenha sucesso, o professor terá de ter em conta as necessidades da criança e optar por um estilo de ensino adaptado às suas necessidades, por exemplo, dando prioridade ao ensino por meio de imagens, movimento, músicas, etc..

Infelizmente, apesar de alguns esforços levados a cabo, nem todas as escolas e nem todos os professores estão sensibilizados para este problema nem dispõem de ferramentas adequadas para odotar uma nova abordagem mais orientada para estes alunos.


Cabe aos pais  lutar pelos direitos dos seus filhos. Se o seu filho tem dificuldades de aprendizagem contacte a Associação de Pais da escola e seja pró-ativo na criação de melhores condições para as crianças com dificuldades de aprendizagem.

quinta-feira, 8 de maio de 2014


Eu digo "bela" por que é que tenho de escrever "vela"?


Em Portugal a língua oficial é o português mas essa língua é constituída por variantes geográficas a que chamamos dialetos. Ou seja, todos falamos a mesma língua mas há algumas características específicas de cada zona do país.

No norte de Portugal verificou-se um desaparecimento da oposição entre o /b/ e o /v/ sendo que, geralmente, as palavras que se escrevem com “v” são articuladas na oralidade como /b/.

Uma vez que se trata de uma variante em relação à chamada norma padrão, considerada a norma de prestígio, observamos, frequentemente, indivíduos com pouco conhecimento linguístico que pretendem esconder a sua variante e acabam por cometer erros trocando os “b” pelos “v”, por exemplo, ao dizer “vola” em vez de “bola”. A este fenómeno dá-se o nome de hipercorreção.

Na escrita temos de obedecer à norma padrão por uma questão de uniformização da língua mas na oralidade cada um fala de acordo com o dialeto da sua região. Apesar de os dialetos não serem considerados norma de prestígio não são menos legítimos e são até muito importantes pois são representações vivas do percurso da história da língua portuguesa.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Primeiro estranha-se, depois entranha-se!
(Fernando Pessoa)


É isso mesmo. Nenhuma outra expressão seria melhor para descrever a minha abordagem sobre a escrita. No nosso método tradicional de ensino da língua a norma ainda se sobrepõe à criatividade. Fico com a sensação de que estamos a andar ao contrário. É tempo de mudar. Temos de dar asas aos nossos filhos para voar e só depois, muito depois, quando já souberem manter-se lá em cima e apreciar o voo, aí então, podemos mostrar-lhes como podem aperfeiçoar o voo!

Regras, normas, convencionalismos... (por favor) a seu devido tempo.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Bem-vindos ao Blog da escrita!

Sou Tradutora há 14 anos, investigadora no Centro de Linguística da FLUP e Mestre em Linguística Portuguesa.
Tenho um filho a frequentar o ensino pré-escolar e uma filha no 1.º ciclo. Tendo em conta a minha formação, as letras têm sido o meu foco de atenção relativamente ao desempenho dos meus filhos, em especial, da minha filha que já se encontra num nível linguístico mais elevado.

Ser mãe ajudou-me a tomar consciência de algumas dificuldades das crianças no que respeita à escrita e, por esse motivo, achei que devia intervir pró-ativamente para desmistificar a escrita e ajudar os outros pais a integra-la no dia a dia da sua família.

Enquanto linguista e, principalmente, enquanto mãe, creio que é essencial incentivar as crianças para a escrita desde muito cedo. A escrita não tem de ser o Bicho Papão, pode ser até um forte aliado, um amigo, uma ferramenta, uma fonte de poder, um mundo paralelo, enfim, a escrita é tudo isto e muito mais! Vamos incentivar as nossas crianças a descobrir, a explorar e, quem sabe, a governar o mundo com a ponta dos dedos. E para isso, nada melhor do que uma nova abordagem para mudar o rumo das escritas das nossas crianças.

Algumas questões que as nossas crianças colocam podem parecer irrelevantes para nós falantes nativos há já alguns anos mas há que ter em conta que elas estão agora a entrar em contacto com a língua e tudo é uma novidade.

Neste blog tentarei apresentar algumas respostas simples para as perguntas complexas das crianças relativamente à Língua Portuguesa. Se tiverem dúvidas podem enviar-me um e-mail e eu responderei com todo o gosto.






Quantas vezes ouvimos os pais dizerem que os seus filhos são uns tagarelas?

Por muito incómodo que seja para os nossos ouvidos (pobres pais!) é um bom sinal, é aliás um ótimo sinal. Faz-lhes bem falar, faz-lhes bem procurar palavras no seu léxico em desenvolvimento para expressar aquilo que pretendem naquele determinado momento.

Ao contrário do que alguns pais pensam, não é só na fase da escrita mas sim já na fase oral que as crianças põem em prática as primeiras noções gramaticais, ainda que de forma inconsciente.


É também na fase oral que começam a tomar consciência não só da sua competência linguística, mas também e senão ainda mais importante, do mundo em que vivem e do que os rodeia e, assim sendo, facilmente interiorizam uma lógica que lhes permite afirmar que “o João comeu a bolacha” e não “a bolacha comeu o João”!
"Hoje fui ao cinema depois fui jantar fora com os meus pais depois fui à casa da minha avó depois voltei para casa."

"Eu fui a casa da minha tia e fomos comprar uma camisola e comi um gelado e a minha mãe foi buscar-me".


As crianças adoram os depois e os e. Os pais devem, aos poucos e sem desmotivar, incentivar o uso de alternativas.

Em vez do depois:
- de seguida, a seguir, entretanto, então
- ponto final

Por exemplo:
"Hoje fui ao cinema e a seguir fui jantar fora com os meus pais. Depois fui à casa da minha avó. Entretanto, voltei para casa."

Em vez do e:
- vírgula
- ponto final

Por exemplo:
"Eu fui a casa da minha tia. Fomos comprar uma camisola e eu comi um gelado. Mais tarde a minha mãe foi buscar-me".


Não é necessário banir os depois e os e, apenas devemos moderar a sua utilização.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Mãe, por que estou sempre a confundir o V com o F?

Esta foi uma das perguntas que fiz à minha mãe quando andava na escola primária. A minha mãe disse-me que com o tempo isso passava pois nada tinha de que ver uma letra com a outra.
Afinal a minha mãe estava enganada e eu só descobri isso quando entrei para a faculdade, nas minhas aulas de Linguística Portuguesa.

A explicação é muito simples.
Graficamente, estas letras não são muito parecidas mas em termos fonéticos (de som) apenas um traço as distingue.

Tanto o som /v/ como o /f/ se articulam da mesma forma na cavidade bucal mas o som correspondente à letra “v” é sonoro, isto é, implica a vibração das cordas vocais, e o som correspondente à letra “f” é surdo, as cordas vocais permanecem imóveis.


O mesmo acontece com as surdas e sonoras, respetivamente, t/d, c/g e ch/j.